Embora o problema venha diminuindo nos últimos anos, em torno de 10% dos bebês nascidos vivos no Estado ainda são de mães adolescentes, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde da Paraíba (SES). Ano passado, de 44.126 bebês nascidos vivos, 4.439 eram de mães que tinham entre 12 e 17 anos de idade, que praticamente trocaram a brincadeira com bonecas para cuidar do bebê. Médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais da área, advertem que, uma vez a adolescente grávida, essa não é a hora de recriminá-la ou discriminá-la, pois esse é justamente o momento em que ela está mais vulnerável e precisará de todo apoio, especialmente dos pais, para superar as dificuldades da maternidade precoce. A mãe da adolescente, nesse ponto, terá um papel preponderante no processo, no sentido de ensinar à filha como proceder com o bebê e na vida, mas é importante, sobretudo, deixá-la assumir as responsabilidades. Anne Karoline Gaudino Farias, de apenas 16 anos de idade, deu à luz no dia 19 de janeiro Arlley Cauã, na Maternidade Frei Damião, em Cruz das Armas, na capital. A gravidez não foi planejada, ocorreu porque ela parou de tomar pílulas anticoncepcionais, e Anne dá “graças a Deus” por hoje contar com o apoio do pai da criança, com quem já tem relacionamento há quatro anos, e da mãe. O companheiro de Anne, Amaury Júnior, tem só 19 anos de idade, e o jovem casal já sabe a responsabilidade que os espera a partir de agora. Por enquanto eles vão ficar morando no bairro dos Novais, em João Pessoa, na casa da mãe de Anne Karoline, a recepcionista Lauricéia Gaudino da Silva, de 32 anos, que também ficou gestante da filha com 16 anos de idade. Anne Karoline nem saiu da adolescência ainda, já se recupera de uma cirurgia cesariana, e troca as saídas para clubes com os amigos, pela responsabilidade de amamentar e cuidar do filho. Logo ela, que nunca quis brincar com bonecas e sempre trocou a tradicional brincadeira de meninas pela brincadeira com terra e areia, agora vai precisar treinar a troca de fraldas e como dar mamadeira ao pequeno Cauã. A nova vovó, Lauricéia, contou que tomou um susto quando soube da gravidez da filha, mas apoiou Anne Karoline. “Quando eu soube que ela estava grávida, fiquei muito aperreada, mas depois só pedi saúde para ela e para o bebê”, disse, comemorando o fato da filha ter parado de “dar trabalho” de outras formas, saindo para clubes e chegando no dia seguinte. “Eu só faltava enlouquecer”, contou. Por outro lado, Lauricéia já sabe que também terá que estar presente na criação do netinho. “É uma sensação muito boa. Apesar dos trabalhos, porque a responsabilidade toda é comigo”, revelou Lauricéia. Vendo outras meninas que não contam com o apoio da família, na gravidez, Anne Karoline lamenta a má sorte das outras adolescentes. “É muito ruim, a gente fica olhando as meninas, sozinhas, é triste. Deus me livre. Tem que ter alguém do seu lado, porque se não tiver, a pessoa sofre”, comentou a adolescente. Mas é importante que as relações de mãe e avó sejam muito bem definidas e equilibradas, ou a primeira consequência virá com a dificuldade da adolescente adquirir responsabilidades e depois a própria criança perde a referência materna, confundindo mãe e avó, culminando por, posteriormente, apresentar dificuldade em reconhecer a autoridade dos pais. “Que a adolescente tenha uma retaguarda, porque essa não é a hora de jogar toda a responsabilidade em cima dela”, concedeu a coordenadora das pediatras da Maternidade Frei Damião, Fátima Paiva. “Mas a adolescente tem que cuidar do seu filho, a responsabilidade é dela, os limites têm que ser respeitados”, completou. Anne está no 1º ano do ensino médio e pretende continuar os estudos, mas disse que vai ter que trabalhar para ajudar a sustentar o filho. Nem toda adolescente tem a mesma sorte de continuar os estudos. Algumas, além de ter que trabalhar, têm que deixar de estudar, abdicando de educação, qualificação profissional e comprometendo todo o seu futuro.
Fonte:Jornal da Paraiba
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